sábado, 29 de março de 2008

Parabéns Iarley!


O pequeno gigante colorado faz aniversário hoje!

Nome: Pedro Iarley Lima Dantas
Data de nascimento: 29/03/1974
Partidas pelo elenco profissional: 122
Gols pelo elenco profissional: 29
Local de nascimento: Quixeramobim/CE
Altura: 1m70cm
Peso: 71kg

Iarley é uma instituição
Por Daniel Ricci Araújo
25/01/2008

Pouco usual e muito curiosa essa época que recai sobre nós.

O dia 17 de dezembro de 2006 criou mitos que ainda não conseguem brilhar irretocáveis e para sempre no merecido verniz da história colorada. E por quê? Simples: Trata-se da mesquinharia do presente. Quando Fernandão erra um passe, Clemer vai pra o banco ou Índio perde a posição, é ela quem está agindo, com sua raiva ciumenta.

O presente, tênue e ranzinza, pretende estabelecer uma mentira. Quer fazer crer que perante seu julgamento tão rigoroso quanto injusto, os ídolos já certos do amanhã estão atualmente desprotegidos, e até um tanto diminuídos. Basta para tanto que se perca um gol, um jogo, ou nem isso. O presente pensa que manda em alguma coisa, coitado.

Vejam o caso de Iarley, por exemplo. Iarley é muito mais que um jogador: é uma instituição. Sozinho, possui mais títulos do que a maioria dos grandes clubes brasileiros. Suas pernas curtas já desferiram gols nos limites do sertão mais longínquo, do oriente mais conhecido e dos estádios mais cultuados da América Latina. Dentro e fora do campo, a qualidade de Iarley não é como um desses talentos repetidos no mundo do futebol e dos quais já se nasce levianamente portador, pelo contrário. Para que o homem de Quixeramobim pudesse chegar ao jogador que foi e é, na dificuldade de sua infância agreste primeiro moldaram-se os valores morais, depois o pé direito.

Iarley é completo, dentro e fora do campo. Se não bastasse o peso de sua biografia, a simples apreciação de uma de suas entrevistas nos traz a consciência de um homem por inteiro, um orador maduro e articulado, quase um estadista de chuteiras. Vê-se ali uma calma sábia e resoluta que o autorizaria, no mínimo, a governar diversas nações pelo mundo afora. Sua ponderação educada é a resposta a outros ex-ponteiros da província que, sem terem erguido metade das taças que ele levantou, em seu tempo diziam-se capazes até de desviar os relâmpagos do céu.

Para ser Iarley, é preciso tempo. É necessário sofrer, aprender, reconhecer erros e ler coisas como a Metafísica de Aristóteles ou a Divina Comédia de Dante – no original. Mas as pessoas não entendem esse processo evolutivo. E imaginam que aqueles célebres minutos finais do jogo eterno de Yokohama foram obra da mera capacidade técnica do grande e inquestionável atacante. Besteira, rebato didaticamente: aquilo tem muito pouco a ver com futebol em si. O corte seco em Puyol, a fria e metódica condução de bola até o passe final para Adriano, os minutos gastos na bandeirinha de escanteio, dêem a tudo aquilo um só nome: caráter. Simples assim. Como diria Machado de Assis, não consultem dicionários.

Porém, nem mesmo Iarley escapa da mesquinharia do presente. Agora, as racionalizadas opiniões do cotidiano - essa poeira de mau gosto que não respeita as lendas vivas - põem dúvidas quanto a sua permanência no Inter. Algumas falam em fim de ciclo, outras perguntam pela idade avançada, talvez não sem razão. Eu sorrio. Iarley é atemporal. Parafraseando: há muito mais entre ele e nós do que sonha qualquer vã filosofia.

Seu nome está gravado a ferro e fogo na história dos grandes jogadores colorados. Caso ele se vá, sai do imaginário da torcida o Iarley real e entra o lendário, o que seria de um merecimento sublime. Se ficar, seu exemplo inspirador permanecerá entre nós, ainda obrigando-nos muito justamente a dedicá-lo uma deferência quase religiosa.

Por mim, que se faça a sua vontade. E os portadores de certezas definitivas, como diria Nelson Rodrigues, devem ter calma e zelo antes de emitirem suas opiniões. Se o futebol de Iarley já não comporta unanimidades, seu caráter sempre será capaz de desabar sobre todos aqueles que, em detrimento da história, ainda o julgam pelo rigor burro e invejoso do presente.

Esqueçam o drible errado ou a bola mal chutada.

Deixem isso para os jogadores normais.

Iarley é uma instituição.



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