sábado, 10 de maio de 2008

Inter, o único Octa Campeão Gaúcho


No início de 1976 o Internacional começou a temporada com grande otimismo. A equipe iria tentar o bicampeonato brasileiro, o inédito título da Libertadores e o octa gaúcho. Na revista Placar, a direção afirmava que a prioridade era o octacampeonato gaúcho. Mesmo assim, uma empresa de Porto Alegre publicou anúncios nos jornais com o título: "Pode começar a tremer, Beckenbauer", em referência ao Bayern de Munique, que enfrentaria o campeão da Libertadores na Final Intercontinental.

Como reforços, o clube apresentava Marinho Peres, ex-Barcelona, o centroavante Ramón, ex-Santa Cruz, e o ponteiro-esquerdo Genau, ex-Colorado. Apenas o zagueiro tinha garantia de ser titular. Ramón tinha feito um bom campeonato brasileiro em 1975, e chegara a atuar pela seleção do campeonato, contra o Internacional, mas ia disputar vaga com Flávio. E Genau era uma jovem revelação paranaense, uma aposta para o futuro.

Antes de estrear no campeonato gaúcho, o Internacional já estava eliminado da Taça Libertadores, e havia um certo desânimo na torcida. Mesmo assim, 7.000 colorados foram ver a estréia, contra o São Luiz: 5x1 para o Colorado. A seguir, um clube inicia uma série de resultados positivos, que só vão sofrer um abalo na 8ª rodada, quando empatou em 0x0 com o Bagé, no interior. Nesta partida, aos 24' do 2º tempo, o jogador Otávio, do Bagé, cortou um cruzamento com a mão, dentro da área, mas o juiz José Luiz Barreto preferiu não marcar nada.

A desclassificação na Libertadores, algumas partidas sem brilho no campeonato gaúcho e notícias de crises internas no clube (possíveis saídas de Lula e Minelli, brigas entre jogadores) levavam muitos a afirmar que o clube estava em decadência. Para provar o contrário, o Colorado decidiu massacrar um adversário, e quem pagou o pato foi o pequeno Ferrocarril, cujo goleiro pesava 105 kg e o técnico era o presidente do clube, que argumentava que com um técnico profissional perderiam de qualquer jeito, e sairia mais caro.

Porém, o Ferrocarril, se fazia uma campanha ruim, não sofrera nenhuma grande humilhação, Sua maior derrota havia sido para o Grêmio (0x5), e até tinha derrotado o Internacional SM, em Santa Maria, por 1x0. Mas no dia 23.05.1976 um vendaval vermelho desabaria sobre o time, deixando-o completamente destruído, no gramado do Beira-Rio. Jogando para provar que ainda era o poderoso esquadrão campeão brasileiro, o Internacional chegou fácil aos 5x0, ainda na 1ª etapa. No intervalo, em vez de pedir para o time diminuir o ritmo, Minelli incentiva a produção ofensiva: quer mais gols. Dallegrave chega a prometer uma compensação financeira por gols marcados. E o pobre Orlando teve de mover seus 105 kg e trabalhar, fazendo pelo menos 4 grandes defesas, mas sofrendo mais 9 gols! A partida terminou 14x0 para o Colorado, na maior goleada da história do Beira-Rio, e do campeonato gaúcho profissional. Detalhe: O Internacional jogou desfalcado de Falcão e Lula, convocados para a Seleção Brasileira.

Na época, clube que tivesse dois ou mais jogadores convocados para a Seleção podia adiar seus jogos para mais tarde, quando os atletas voltassem. Internacional e Grêmio tiveram dois convocados, mas enquanto o tricolor preferiu esperar a volta dos selecionados, o Clube do Povo preferiu continuar jogando, mesmo com os desfalques. E venceu as três partidas sem os selecionados. Alternando boas partidas com jogos encardidos no interior, onde o chuveirinho para Escurinho resolvia tudo no final, o Colorado foi avançando, de vitória em vitória, até a partida contra o xará de São Borja. Nessa partida, depois de dois gols iniciais, o empate em 1x1 arrastava-se até o final, e o Colorado da capital, desfalcado de Cláudio Duarte, Caçapava e Lula, não conseguia vencer a retranca do Internacional local. Até que Valdomiro marcou o segundo gol.

O juiz Luís Louruz confirmou o gol, mas acabou voltando atrás, por intervenção do bandeirinha, e o anulou: durante 12 minutos choveram pedras sobre o trio de arbitragem, arrancadas pelos colorados do concreto do estádio.

Irritada com o tropeço, a direção colorada decidiu trocar Ramón, que vinha fazendo seus golzinhos, por Dario, folclórico centroavante que estava no Sport. Na rodada seguinte, Ramón já estava de volta a PE, 6 meses depois de ter saído do Santa Cruz, e Dario estreava no Colorado marcando o gol “Ítalo-Brasileiro”, no Esportivo. No Gre-Nal que encerrava o turno, o Grêmio chegou com dois pontos de vantagem, pois havia vencido todos seus jogos. Se empatasse, ganharia o turno, algo que não acontecia há muitos anos. Se perdesse, haveria jogo-extra. Os gremistas sonhavam com o empate, mas foram derrotados, em uma partida que foi recorde de público e renda. Mas no jogo-extra os gremistas vencem, e fazem um carnaval no estado, como se tivessem ganho um título.

Os dois turnos seguintes eram curtos: apenas as 4 melhores equipes se enfrentariam. O vencedor de cada turno classificaria-se para as finais. Se o Grêmio ganhasse os dois turnos restantes, seria campeão. Se uma equipe chegasse nas finais com 2 turnos ganhos, entraria com um ponto de vantagem. E no 2º turno o Colorado venceu todos os adversários. No Gre-Nal, jogo tenso e pancadaria, com 5 expulsos: os colorados Falcão, Hermínio e Dario, e os gremistas Alcino e Eurico.

No 3º turno o Internacional chegou ao Gre-Nal jogando pelo empate. O Grêmio vencia o jogo até os 45’ do 2º tempo, e ficava a uma vitória do título gaúcho. Mas em uma cobrança de escanteio Escurinho empatou, e a vantagem trocou de lado. Dizem os outros atletas que, na hora da cobrança do escanteio, Escurinho estava repetindo, baixinho: vem pra mim, bola, vem pra mim...

Se o Internacional vencesse o primeiro Gre-Nal da decisão, seria campeão. Caso contrário, haveria outro jogo. A partida foi morna até os 10' do 2º tempo. Quando a torcida colorada viu a placa indicando que Escurinho entraria, iniciou uma manifestação de alegria que prolongou-se por vários minutos, como se fosse um gol. Durante esta agitação, sucederam-se as jogadas ofensivas coloradas. Aos 11', com Escurinho em campo, um escanteio leva pânico à defesa gremista. Aos 13', Falcão faz um carnaval de dribles na defesa gremista, mas perde o gol. No lance seguinte, Lula aplicou uma meia-lua em Ancheta e tocou por cima de Cejas, para abrir o marcador. A vibração pela entrada de Escurinho emendou-se com a comemoração do gol. Também foi de Lula a jogada do segundo gol. O ponteiro recebeu a bola no meio de campo, correu com ela até a área e tocou para Dario, livre, concluir. Aos 41' do 2º tempo, Bolívar foi expulso. Com este resultado o Internacional sagrou-se octacampeão gaúcho.

Campanha colorada:
1º Turno
5x1 São Luiz (C) – Falcão (3), Ramón e Escurinho
1x0 Ypiranga (F) – Ramón
4x0 Sá Viana (C) – Figueroa (2), Ramón e Enrico (contra)
4x1 Juventude (F) – Lula (2), Figueroa e Caçapava
1x0 Cruzeiro (C) – Escurinho
1x0 Caxias (F) – Batista
4x0 Gaúcho (C) – Ramón (2), Escurinho e Marinho Peres
0x0 Bagé (F)
4x0 Riograndense RG (C) – Flávio, Genau, Escurinho e Cláudio (contra)
14x0 Ferrocarril (C) – Valdomiro (3), Ramón (3), Caçapava (2), Genau, Carpegiani, Flávio, Cláudio Duarte, Escurinho e Lula
2x0 Internacional SM (C) – Escurinho e Ramón
1x0 Atlântico (C) – Figueroa
3x1 Estrela (F) – Lula, Carpegiani e Ramón
1x0 Santa Cruz (F) – Escurinho
1x1 Internacional SB (F) – Figueroa
3x0 Esportivo (C) – Jair, Dario e Borjão
3x0 Guarany BA (F) – Dario, Jair e Valdomiro
1x0 Atlético (F) – Escurinho
2x0 Grêmio (C) – Figueroa e Carpegiani
Jogo-extra
0x2 Grêmio (F)

2º Turno
3x0 Esportivo (C) – Valdomiro (2) e Jair
4x2 Caxias (C) – Jair, Dario, Lula e Valdomiro
1x0 Grêmio (C) – Beto Fuscão (contra)

3º Turno
2x0 Esportivo (C) – Carlão (contra) e Batista
1x0 Caxias (F) – Lula
1x1 Grêmio (F) – Escurinho
Final
2x0 Grêmio (C) – Lula e Dario

INTER, o único OCTA Campeão Gaúcho
69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76

Maior do Sul, 38 vezes Campeão Gaúcho!

Créditos: Raul, a enciclopédia Colorada! Valeu Raulzito!

0 Pichações:

Postar um comentário

Related Posts with Thumbnails
 

Design by SAPULHA - 2007