segunda-feira, 23 de junho de 2008

Exagero (Luís Fernando Veríssimo)


Uma crônica de Luís Fernando Veríssimo, escrita no final dos anos 1980 (acho que em 1987), onde ele retrata o diálogo entre dois torcedores colorados que haviam vivenciado o grande time dos anos 1970, e se reencontravam em meio aquela fase amarga de muitas tristezas e poucas alegrias. Tem gente, é verdade, que exagera.

- Esse teu timezinho, hein?

- Como, "meu" timezinho? Nosso timezinho.

- Eu nunca fui torcedor, torcedor.

- O quê?!

- Simpatizante.

- Não vem com essa. Já vi você enrolado na bandeira.

- Era frio.

- Mirando bergamota em bandeirinha.

- Farra.

- Não vem. E aquela ida a São Borja? Fizemos os últimos dois quilômetros em carro de boi depois que o ônibus quebrou. Assistimos ao jogo de cima de uma árvore. Na hora do gol você pulou no meio da torcida deles. Apanhou rindo. Voltou de tipóia e feliz.

- Fui pelo pitoresco.

- Quer dizer que você não é colorado?

- Convicto, nunca fui.

- Farsante!

- Não, sério. Pensando bem, nem de futebol eu gosto muito. Esporte bonito é o vôlei.

- Pois eu sou e mantenho. Colorado nas boas e nas ruins. Quando vejo aquela cor vermelha...

- Meio espalhafatosa, né?

- Sinto um negócio aqui.

- Pode ser gases.

- Pense em 1975. Pense em 1976. Figueroa, Escurinho, Falcão, Dario, Claudiomiro, Chico Spina. Está bem, Chico Spina não. Paulo César, Valdomiro, Lula... O que foi?

- Nada.

- Você está chorando.

- É um cisco.

- E ainda diz que não é colorado!

- Foi uma recaída.

Esse texto mostra que mesmo nas fases mais difíceis a nação alvi-rubra não se entrega nunca. Alguns podem intimidar-se, esconder-se, mas basta relembrar as glórias passadas, ou uma boa campanha que inspire alegrias futuras, para que em cada canto deste estado brotem bandeiras vermelhas e gritos de "Colorado".

Créditos ao Raul, a enciclopédia Colorada.

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