Exagero (Luís Fernando Veríssimo)
Uma crônica de Luís Fernando Veríssimo, escrita no final dos anos 1980 (acho que em 1987), onde ele retrata o diálogo entre dois torcedores colorados que haviam vivenciado o grande time dos anos 1970, e se reencontravam em meio aquela fase amarga de muitas tristezas e poucas alegrias. Tem gente, é verdade, que exagera.
- Esse teu timezinho, hein?
- Como, "meu" timezinho? Nosso timezinho.
- Eu nunca fui torcedor, torcedor.
- O quê?!
- Simpatizante.
- Não vem com essa. Já vi você enrolado na bandeira.
- Era frio.
- Mirando bergamota em bandeirinha.
- Farra.
- Não vem. E aquela ida a São Borja? Fizemos os últimos dois quilômetros em carro de boi depois que o ônibus quebrou. Assistimos ao jogo de cima de uma árvore. Na hora do gol você pulou no meio da torcida deles. Apanhou rindo. Voltou de tipóia e feliz.
- Fui pelo pitoresco.
- Quer dizer que você não é colorado?
- Convicto, nunca fui.
- Farsante!
- Não, sério. Pensando bem, nem de futebol eu gosto muito. Esporte bonito é o vôlei.
- Pois eu sou e mantenho. Colorado nas boas e nas ruins. Quando vejo aquela cor vermelha...
- Meio espalhafatosa, né?
- Sinto um negócio aqui.
- Pode ser gases.
- Pense em 1975. Pense em 1976. Figueroa, Escurinho, Falcão, Dario, Claudiomiro, Chico Spina. Está bem, Chico Spina não. Paulo César, Valdomiro, Lula... O que foi?
- Nada.
- Você está chorando.
- É um cisco.
- E ainda diz que não é colorado!
- Foi uma recaída.
Esse texto mostra que mesmo nas fases mais difíceis a nação alvi-rubra não se entrega nunca. Alguns podem intimidar-se, esconder-se, mas basta relembrar as glórias passadas, ou uma boa campanha que inspire alegrias futuras, para que em cada canto deste estado brotem bandeiras vermelhas e gritos de "Colorado".
Créditos ao Raul, a enciclopédia Colorada.
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