terça-feira, 4 de março de 2008

Guiñazu - No fio do bigode


Guiñazu, raça e disposição a serviço do Inter

Reportagem da Revista Placar:


NO FIO DO BIGODE
O VISUAL "MAFIOSO LATINO" PODE ATÉ ENGANAR, MAS, DENTRO DE CAMPO, GUIÑAZU SE GARANTE. É DURO ADMITIR, MAS O JOGADOR MAIS SIMPÁTICO E IMPORTANTE DO INTER DE HOJE É ARGENTINO.

Um exemplo do "estilo Guiñazu" de ser e de jogar: a encarada que ele deu no conterrâneo, e ex-colega de seleção argentina Javier Zanetti. O Inter gaúcho ja vencia a Inter milanesa, na final da Copa Dubai, quando o becão Marco Materazzi (aquele da cabeçada do Zidane...) desferiu um cotovelaço em Fernandão. O capitão Zanetti correu para cima do árbitro, a fim de pedir cartão para o atacante colorado, alegando simulação. Foi quando Guiñazu barrou a corrida do antigo colega de seleção e disparou: "Fica quieto! Tu e eu sabemos que ele é malvado". Zanetti recuou.

Guiña ou Cholo - apelido de infância, uma referência argentina para os mestiços , filhos de espanhóis com índios -, como também é chamado no Beira-Rio, é uma espécie de Tinga branco. Chegou ao Inter com quase um ano de atraso para ser o novo motorzinho do time - uma vez que Tinga havia sido negociado ao Borússia, em meio à Libertadores. Na época, sem conseguir Guiñazu, o Inter acabou buscando o colombiano Vargas para a função.

Antigo sonho do ex-presidente Fernando Carvalho, que desejava sua contratação ainda para a disputa do Mundial de 2006, ele foi liberado pelo Libertad somente em meados do ano passado. O interesse vermelho no volante despertou a cobiça gremista. Guiñazu estava tendo seu caminho desviado para o Olimpico. Quarenta e oito horas antes do desembarque na Azenha, a direção colorada agiu rápido e montou uma complexa engenharia para mudar outra vez o destino do argentino. O diretor de futebol Silvio Silveira foi enviado a Assunção a fim de converter Horácio Cartes, dono do Libertad e de metade do Paraguai, a vender Guiñazu para o Inter. "Guiñazu era o jogador que faltava para recompor nosso meio-campo. Ele é o fiador das ações defensivas e ofensivas do time. Guiña marca melhor que o Tinga, mas não chega tanto ao ataque." analisa Carvalho.

No começo, o volante foi sondado pelos gigantes argentinos Boca e River. Preferiu seguir em Porto Alegre. Quer jogar um Brasileirão inteiro. Quis ficar no Inter tembém pela plasticidade do futebol verde-amarelo. Apaixonado pelo jogo bonito, Guiñazu diz estar encantado com o Brasil:"Sempre fui fã do futebol de vocês. Aqui, cada jogo do brasileirão é uma festa. Vocês deveriam valorizar ainda mais o campeonato nacional, há jogadores de grande talento e jovens muito promissores".

Em novembro, ele realizou um sonho: jogar contra Romário. Foi no banho de bola que o Inter aplicou no Vasco. O placar 2x1, no Rio, foi graças à enxurrada de gols disperdiçados pelo ataque vermelho. "Romário sempre foi meu grande ídolo, depis do Maradona, é claro", afirma. "Torci muito para que ele entrasse naquela partida. No segundo tempo, quando vi Romário se aquecendo na beira do gramado, pensei: 'Vou contar para meus filhos que joguei com Romário'.Que dia!".

Embora seja um aficcionado pelo nosso futebol, quando o assunto é a comparação entre Pelé e Maradona, Guiñazu desfralda a bandeira azul e branca da Argentina e não titubeia um segundo sequer ao dar a resposta padrão dos hermanos:"Eles foram os melhores de suas respectivas gerações, mas sou argentino e preciso dizer que Maradona foi maior que Pelé. Infelizmente não vi o Pelé jogar, mas cheguei a jogar contra Maradona. Foi em 1996, ele estava em fim de carreira. Eu estava no Newell's e perdemos para o Boca por 2x1".

Se o volante sonhava com Maradona e Romário, os colorados não dormem quando Guiñazu está fora do time. Ele causou comoção no Beira-Rio ao retornar com o joelho lesionado de Dubai. Ficou fora das quatro primeiras rodadas do Gauchão, quando o time foi muito mal. Logo no retorno do gringo, um histórico 5x0 sobre o Brasil, em Pelotas.

"Ver o Guiña jogar é emocionante. Quando ele não está em campo, o gás falta ao time. Ele marca e ataca com uma vontade impressionante, chega a constranger quem não estiver a fim de correr. Trata-se de um jogador abençoado. Se ele chutasse mais a gol, seria titular absoluto na seleção da Argentina", derrete-se o técnico Abel Braga.

"Guiñazu é um jogador de dinâmica, aquele cara que está toda hora na jogada, atravessa na sua frente e pega seu marcador, depois volta e pega o dele, faz tudo. É o motorzinho. Ele dá liberdade para o Alex jogar, ele joga para o time", emenda Magrão.

Talvez tanta disposição venha dos treinamentos. Na calorenta Porto Alegre, cujos termômetros no verão chegam fácil à casa dos 40°C, o argentino treina de moletom. Sim, Guiñazu faz sauna enquanto disputa um coletivo. Chega a perder até 3,5 quilos a cada coletivo- que são imediatamente repostos com isotônicos após o trabalho. A mania vem desde os tempos de Libertad. "É algo psicológico, dependo disso para correr mais nos jogos. Me sinto mais leve durante as partidas. Não me importo de suar como louco durante a semana, afinal, terino é para sofrer mesmo".

Poucos argentinos fizeram a fama no futebol gaúcho. No Inter então, os casos de sucessos são inexistentes. Talvez porque a maioria deles venha de Buenos Aires, uma cidade imensa perto de Porto Alegre - mas a dupla greNAL também é maior do que Porto Alegre. Só que El Cholo está aí para contrariar a estatística. Nascido em Córdoba com apenas 10000 habitantes, ele começou a carreira profissional no Newell's, em Rosário- cidade com características semelhante às da capital gapucha. E foi feliz lá, em especial nos clássicos contra o Rosário Central. "Gosto muito de Porto Alegre. Até no futebol ela se parece com Rosário. Há dois times e uma rivalidade enorme. Meus filhos [Matias, 7 anos, e Lucas, 1 ano] e minha mulher, Erika, virão morar comigo agora. Ainda vivem no Paraguai", diz Guiñazu.

O argentino já pensa em comprar o apartamento no qual vive em Três Figueiras, zona nobre de Porto Alegre - o imóvel foi ocupado por Amoroso, em sua pálida passagem pelo Olímpico. É nele que Cholo reúne os amigos colorados, o uruguaio Sorondo e o colombiano Orozco, além do peruano gremista Hidalgo (ex-colega de Libertad), para jantares de "integração" de gringos.

"Sou caseiro, gosto de fazer massa em casa, assistir filmes e jogar PlayStation"
, conta. Mas, fenômeno de convivência e de audiência, ele já pode colocar apelidos novos em todos os colegas a se aventurar pela cidade. O Rio Grande é seu, Cholo! Ou pelo menos, mais da metade dele...


Autógrafo do "motorzinho colorado"!

Guiñazu "aloprando" no ensaio da banda "The Fumetas"

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